Gota, pseudogota e artrites microcristalinas em Florianópolis/SC
A gota é uma doença inflamatória articular decorrente do acúmulo de ácido úrico nas articulações e tecidos peri-articulares. Depósitos articulares de outros cristais, como pirofosfato de cálcio e cristais básicos de cálcio também podem causar processos inflamatórios semelhantes – em conjunto, esses quadros são denominados artrites microcristalinas.
O depósito de ácido úrico em articulações, ossos e em tecidos moles (tendões, ligamentos, tecido subcutâneo) decorre do aumento crônico das concentrações sanguíneas desse composto. Os níveis do ácido úrico dependem de um balanço entre a produção (que depende de fatores genéticos e da dieta, podendo ser influenciada por medicamentos) e a excreção (em sua maioria renal, também pode ser afetada por alguns medicamentos). Os principais alimentos associados a aumento dos níveis de ácido úrico são carnes (de qualquer animal) e bebidas alcoólicas.
Por não ser metabolizado por nosso organismo, todo o ácido úrico que não for excretado pela urina acaba se depositando em nossos tecidos, onde provoca reações inflamatórias. Os níveis sanguíneos de ácido úrico geralmente estão aumentados por anos antes da primeira crise de gota. As primeiras crises de gota geralmente são monoarticulares (envolvem apenas uma articulação) e são caracterizadas por intensa artrite, manifesta por forte dor, eritema (vermelhidão), calor e alodinia (hipersensibilidade da pele – é comum que o paciente não suporte o toque de um lençol no local). Por um motivo desconhecido, as crises iniciais de gota apresentam certa predileção pelo hálux, quadro conhecido por podagra.
As crises gotosas, apesar de muito dolorosas, são autolimitadas – desaparecem em alguns dias. Após a primeira crise, pode haver um grande intervalo (meses, até anos) antes das crises subsequentes. No entanto, se os níveis de ácido úrico não forem controlados com tratamento adequado, novas crises tendem a surgir, progressivamente mais intensas, mais prolongas e acometendo maior número de articulações. Se não tratado, o quadro pode evoluir para uma artrite gotosa crônica, em que o processo inflamatório, a dor e a inflamação se tornam contínuos.
O úrico também pode se acumular nos tecidos sobre a forma de tofos, grandes concentrações nodulares da substância. Os tofos podem ser visíveis e palpáveis em locais como dedos de mãos e pés tornozelos, cotovelos, joelhos e mesmo nas orelhas. No entanto, também podem acarretar erosões e destruição ósseas e articulares, resultando em deformidades irreversíveis.
As crises de gota podem ser desencadeadas por aumento ou por redução súbita dos níveis de ácido úrico. Fatores associados ao surgimento das crises incluem ingesta excessiva de carnes e bebidas alcoólicas, uso de determinados medicamentos, trauma locais, infecções, desidratação.
Gota costuma estar associada a síndrome plurimetabólica (obesidade central, dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes mellitus), o que acarreta risco de doenças cardiovasculares. Além disso, há evidências que sugerem que níveis aumentados de ácido úrico estão associados a cardiopatias e a deterioração da função renal.
O diagnóstico da gota demanda quadro clínico característico e comprovação de hiperuricemia, o que envolve a dosagem de níveis séricos de ácido úrico. Punção articulares, com análise do líquido sinovial por microscopia de luz polarizada também pode ser empregada. Radiografia também podem ser empregadas, mas os exames de imagem mais úteis para o diagnostico são ultrassonografia articular e tomografia computadorizada com raios de dupla densidade.
O tratamento adequado da gota exige a redução dos níveis de ácido úrico – uma vez alcançado esse objetivo previnem-se novas crises e propicia-se a reabsorção dos depósitos sistêmicos. Controle dietético tem um papel importante no controle da gota, geralmente associada ao uso de medicamentos. É muito difícil controlar o quadro de gota exclusivamente com dieta, aliás, a melhor regra é não proibir nenhum alimento, mas praticar consumo moderado e sem grandes variações de quantidade facilita o controle clínico.
As crises gotosas devem ser controladas com medicamentos específicos, que permitem uma resolução mais rápida do quadro. Já para prevenção de novas crises, os medicamentos devem ser utilizados continuamente. Em paralelo ao tratamento da gota, sempre é importante avaliar e tratar as comorbidades associadas.
Os depósitos articulares de pirofosfato de cálcio geralmente são detectados às radiografias ou à ultrassonografia, como condrocalcinose (calcificação das cartilagens articulares). Embora esses depósitos possam ser assintomáticos, alguns pacientes podem apresentar crises agudas de artrite muito semelhantes à gota (chamada pesudogota), ao passo que outros podem apresentar artrites crônicas, que pode ser confundir com doenças como a artrite reumatoide.
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Dr. Gláucio Castro
- Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999)
- Residência Médica em Clínica Médica e Reumatologia pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp (2003).
- Área de Atuação em Dor
- Pós-Graduação em Tratamento Invasivo da Dor - Einstein